1/8/2024
Técnicas

Como focar nos estudos?

Vamos lá. Sentei e comecei a estudar. Recebo uma notificação no celular. Paro, olho, “ah, era  só uma mensagem de propaganda”. Volto a estudar. Passa uns minutos, abro uma rede social para checar mensagens. Aproveito que já olhei e vejo meu feed. OPS! Já passaram meia hora e eu aqui vendo reels.

Volto a estudar. Tento focar, ou seja, direcionar minha atenção e mantê-la sustentada na tarefa que me propus a fazer. De repente, lembro “ai, não posso esquecer de comprar leite de aveia. Mas será que fica saudável fazer bolo com leite de aveia...”. OPA! Dessa vez, minha mente começou a divagar e não consegui focar nos estudos! O que posso fazer?

Perceba que no começo desse artigo, falei de dois tipos de distratores. Um externo (celular), outro interno (mente divagando). Obviamente, vou imaginar que você esteja com sono em dia, bem alimentado e hidratado. Pronto, agora podemos focar em lidar com os distratores. Vamos começar com os externos.

Lidando com distratores externos

Primeira coisa: Escolha um lugar para estudar, de preferência sem muitos distratores. Ou seja, um lugar calmo, sem muito barulho, sem tentações. Por exemplo, se você é fã de videogames, não deve ter um videogame na sua frente te encarrando e dizendo: “pare o que está fazendo e venha jogar!”. No meu caso, não deve ter papelaria nova para eu fazer uma artezinha...

Cada um sabe qual sua tentação, então deve evitar! Obviamente, podemos usar a tentação como reforço. Vou estudar por [x] tempo, depois posso jogar por [x] tempo. Estilo a técnica do Pomodoro, mas lembre-se, não há evidência do tempo estipulado, então veja o que funciona melhor para você.

O que se sabe é que pausas são benéficas, portanto, estude por um tempo e pause: descanse, pratique mindfulness, caminhe ao ar livre, ou ganhe seu reforço! Lembre-se que se escolher o reforço de jogar videogame (não é o mais recomendado!), coloque um despertador para te avisar quando o tempo que estipulou pausar acabou!

Agora, vamos supor que o local é complicado, o único local que pode estudar tem muito barulho. Compre um tampão de ouvido, ou invista em um fone de ouvido que cancela ruído (eu prefiro o primeiro, é mais barato e funciona muito bem!).

Se escolheu estudar em uma biblioteca, ou em um lugar público, escolha locais que as pessoas não ficarão circulando, de preferência um canto, virado para parede. Não é o momento de socializar e sim focar!

Segundo: saiba que você não é multitarefas, ou seja, nosso cérebro foi feito para realizar uma tarefa de cada vez. Há grandes prejuízos quando uma pessoa realiza duas coisas ao mesmo tempo, altenando as tarefas, especialmente nos estudos.

Agora me responda, você troca muitas mensagens? Uma pesquisa realizada com estudantes nos Estados Unidos mostrou que quanto mais mensagens de texto o aluno troca, menor sua nota no GPA (média de notas, quanto maior, mais oportunidades para ingresso em melhores universidades com possibilidade de bolsa).

Meu grupo de pesquisa realizou uma pesquisa (feito no Brasil! Uhull!): os estudantes tinham um texto para ler. Durante a leitura, tinham permissão para olhar mensagens no celular. As mensagens eram bobinhas e os alunos não precisavam respondê-las (ex. “oi, vai na aula hoje?”). Depois de ler o texto, os alunos respondiam questões relacionadas com o texto que leu.

Agora imagine que esses alunos devem ler outro texto. Dessa vez, não podem mexer no celular. Após a leitura, também respondem questões relacionadas ao que leu. O que você acha que aconteceu? Você acredita que:

  1. O desempenho em ambos textos foi igual;
  2. Os alunos foram melhores quando leram o texto vendo mensagens no celular;
  3. Os alunos foram melhores quando leram o texto e não podiam ler mensagens no celular.

Acertou quem respondeu a letra c! Muitos acreditam que o desempenho é o mesmo. Acreditam que ler mensagens não atrapalha a aquisição do conteúdo, mas atrapalha! (para saber da pesquisa completa, os efeitos a longo-prazo, veja a pesquisa da Macacare e colaboradores nas referências).

Inclusive, alguns estudos mostram que as pessoas podem levar mais tempo lendo um conteúdo quando realizam multitarefas do que quando focam! Ou seja, se você é daqueles que reclama que falta tempo para estudar, será que quando está estudando, você está tentando fazer multitarefas? Se está, você não está aproveitando bem o seu tempo!

Agora, se você pensa que as pessoas que mais realizam multitarefas são as pessoas cognitivamente mais equipadas para fazê-la, está enganado! Se você se identificou como uma pessoa que faz muita multitarefa, saiba que quem mais realiza são as pessoas que, cognitivamente, são menos equipadas para isso!

Então vai a terceira dica: evite tentações do celular. Silencie seu telefone, coloque em modo avião, deixe-o na sua gaveta ou virado com a tela para baixo. Só a luz da notificação já te atrapalha!

Ah, mas não me atrapalha, eu olho e ignoro. Então imagina que seu médico dissesse que você deveria evitar doces. Você acha mais fácil dizer não para um brigadeiro quando alguém mostra ele na sua frente, ou quando alguém fala: “vamos na padaria pegar um brigadeiro?”. Na primeira situação, a tentação está na sua frente. Na segunda, você tem que fazer uma ação para cair na tentação, (no caso, tirar o seu celular do modo avião, ir na padaria...).

Lidando com distratores internos

Agora, vamos ao ponto da mente divagando. A ciência está investigando esse tópico, por que algumas pessoas divagam mais do que outras, em que momentos divagar pode ser útil (não é o foco aqui! O foco é como focar! Então...).

Há estudos que visam investigar como os alunos podem lidar com a mente divagando. Mas como sei o que é mente divagando? É quando você começa a pensar em coisas que não tem relação com o que está fazendo, por exemplo, o tópico da aula. Por exemplo, você está vendo uma aula sobre nervos cranianos e começa a pensar no que faria se ganhasse na mega sena, ou na lista de compras que não pode esquecer de comprar.

Intencionalmente, você pode escolher divagar, por exemplo, a aula está chata, eu prefiro pensar no que vou fazer esse final de semana. Mas aqui, vamos pensar na divagação não intencional, que é aquela no qual você quer focar em algo (ex. na aula), mas os pensamentos vem na sua cabeça.

Saiba que essa divagação pode aumentar: 1) se a tarefa for muito longa; 2) se você achar a tarefa muito entediante; 3) se você achar ela muito simples ou muito difícil.

Identifique quando sua mente divagar e você perder o foco. Quando perceber que está divagando, retorne na ação que estava fazendo. Alguns estudos mostram que mindfulness, ou seja, atenção plena ajuda. Todavia, não se sabe a direcionalidade, ou seja, será que as pessoas mais propensas a praticar mindfulness são as que menos divagam, ou será que a prática diminui a divagação?

Tenha em mãos um “brain dump”, ou seja, um pedaço de papel para quando lembrar de algo que não quer esquecer. Por exemplo, lembrei de comprar leite de aveia, anoto no papel e continuo focado na tarefa. Assim libero minha memória de trabalho para aprender mais sobre o que estou estudando!

A memória de trabalho é um tipo de memória de espaço limitado. Se estou estudando e tenho que manter na minha memória “comprar leite de aveia”, vou estar ocupando um espaço para manter essa informação. Ao mesmo tempo, vou estar tentando manipulando outras.

Por exemplo, agora você está lendo esse texto. Percebe que manteve as informações lidas até o momento, ao mesmo tempo que continua lendo as palavras seguintes e interpretando o que lê. Isso é essencial para a sua aprendizagem!

Faça quizzes! Sim, você pode responder umas questões relacionadas como texto que está lendo, ou com a videoaula que está assistindo. Isso diminui a divagação da mente.    

Resumindo: para focar, escolha um bom lugar para estudar, longe de distratores. Desligue ou coloque o celular no modo silencioso, ou avião, lembre-se que você não é multitarefas. Faça pausas. Se a mente divagar, perceba e volte ao que estava fazendo. Tenha um papel a seu lado para anotar coisas importantes que lembrar e volte ao que estava fazendo. Se programe para fazer quizzes no meio das suas sessões de leitura ou das videoaulas que assiste.

Referências

Gurung, R.A.R; Dunlosky, J. (2023). Study like a champ: the Psychology-based guide to “grade A” study habits. APALifeTools.

Mueller, P. A., & Oppenheimer, D. M. (2014). The pen is mightier than the keyboard: Advantages of longhand over laptop note taking. Psychological Science, 25, 1159-1168.

Morehead, K., Dunlosky, J., & Rawson, K. A. (2019) How much mightier is the pen than the keyboard for note-taking? A replication and extension of Mueller and Oppenheimer (2014). Educational Psychology Review, 1-28.

Urry, H. L., Crittle, C. S., Floerke, V. A., Leonard, M. Z., Perry III, C. S., Akdilek, N., ... & Zarrow, J. E. (2021). Don’t ditch the laptop just yet: A direct replication of Mueller and Oppenheimer’s (2014) study 1 plus mini meta-analyses across similar studies. Psychological Science, 32(3), 326-339.

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